quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Maria Veleda (1871-1955) - Parte I

Maria Veleda foi uma mulher pioneira na luta pela educação das crianças e pelos direitos das mulheres, destacando-se como uma das mais importantes dirigentes do movimento feminista português da primeira vaga.

Muito jovem, estreou-se na imprensa algarvia e alentejana com a publicação de poesia, contos e novelas, dedicando-se depois aos temas educativos e feministas. Foi professora do ensino particular no Algarve e Alentejo e, a partir de 1905, leccionou no Centro Escolar Republicano Afonso Costa e no Centro Escolar Republicano da Ajuda. Influenciada pelas teorias de Froëbel e de Maria Montessori, criticou o sistema de ensino régio por se centrar na memorização, por permitir castigos corporais e pela excessiva influência da doutrina católica. Em sua opinião, este sistema poderia ensinar a ler mas não ensinava a pensar.

Nos anos que antecederam a implantação da República, na linha da Escola Moderna de Francisco Ferrer y Guardia, defendeu a educação racional, laica, científica e integral, em que se aliassem a teoria e a prática no ensino das ciências, no trabalho das oficinas, nas experiências dos laboratórios e nas visitas de estudo, de modo a estimular a procura do conhecimento, a criatividade e o espírito crítico. Os valores da liberdade, da justiça e da solidariedade, bem como os princípios da honestidade, da ética e do civismo complementariam o programa educativo, capaz de formar cidadãos instruídos, autónomos e úteis à sociedade e à Pátria.

No tempo em que a literatura infantil começava a despontar em Portugal, graças a Ana de Castro Osório, Maria Veleda seguiu-lhe logo o exemplo e publicou, em 1902, uma colecção de contos para crianças, intitulada Biblioteca Infantil - Contos Cor-de- Rosa. Alguns destes contos já os tinha publicado antes nos jornais em que marcava presença assídua, como a Folha de Beja. Nesse mesmo ano, já muito preocupada com os problemas do analfabetismo e da submissão das mulheres à tutela masculina, aos preconceitos sociais e à doutrina da Igreja, publicou também o opúsculo Emancipação Feminina.


Quando se fixou em Lisboa e se tornou professora regente do Centro Escolar Republicano Afonso Costa, começou a escrever no jornal A Vanguarda, converteu-se aos ideais republicanos e foi iniciada na Maçonaria por Magalhães Lima, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido. Foi nos Centros Republicanos que conheceu os mais prestigiados dirigentes do Partido Republicano e começou a interessar-se pela política do país até se tornar uma brilhante oradora, tendo a oportunidade de discursar ao lado de Alexandre Braga, António Granjo, Bernardino Machado, Botto Machado, João Chagas, e Teófilo Braga, entre muitos outros.

Simultaneamente, conheceu Ana de Castro Osório, Joana de Almeida Nogueira, Olga Morais Sarmento da Silveira, Virginia Quaresma, Adelaide Cabete, Carolina Beatriz Ângelo e outras feministas, com as quais participou em tertúlias literárias, teceu amizades, polemizou nos jornais e teceu compromissos associativos. Participou na criação da Associação Fundadora de Escolas Maternais e do Grupo Português de Estudos Feministas, em 1907, da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em 1908, e da Obra Maternal, em 1909. Esta última instituição que tinha por objectivo acolher e educar as crianças abandonadas, pedintes ou em perigo moral que circulavam nas ruas de Lisboa, foi dirigida por Maria Veleda desde a sua fundação até 1916, data em que passou para a tutela da Cruzada das Mulheres Portuguesas, destinando-se depois a apoiar os órfãos de guerra. A Obra Maternal atravessou tempos difíceis e Maria Veleda teve a ideia de criar um Grupo Dramático para representar peças de teatro feminista, educador e revolucionário, a fim de angariar os fundos necessários à sua manutenção. Não havendo peças teatrais com estas características, Maria Veleda lançou mãos à obra e escreveu cinco peças dramáticas e uma comédia: ‘Escrava’, ‘Redenção’, ‘A Lei’, ‘Mulher Ideal’, ‘Único Amor’ e ‘A Minha Menina’, representadas em Lisboa, nos Teatros Étoile, Trindade, Gimnásio e República.

O seu contributo para a instrução e educação não se esgotou no ensino de crianças e jovens, antes se ampliou com a criação, em 1908, de cursos nocturnos e cursos dominicais nos Centros Republicanos António José de Almeida e Botto Machado. Estes cursos, destinados a mulheres e raparigas analfabetas, obedeciam ao programa da instrução primária, complementado com conferências educativas sobre os mais variados temas científicos e políticos, como História, Geografia, Ciências da Natureza, Astronomia, Questões Sociais, Direitos e Deveres Cívicos, visando a sua preparação para o exercício de uma profissão e participação na vida política.

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