Em 1912, o governo nomeou-a Delegada de Vigilância da Tutoria Central da
Infância de Lisboa, instituição destinada a recolher as crianças desamparadas, pedintes
ou delinquentes, cargo que ocupou até 1941. Desempenhou a árdua tarefa de visitar
os bairros mais pobres, informar-se dos casos mais tristes e deprimentes, sob o ponto
de vista da miséria material e moral, acompanhar os respectivos processos judiciais no
Tribunal de Menores da Tutoria, vigiar os jovens delinquentes em liberdade, aconselhar,
prevenir e encaminhar, sempre com o intuito de os recuperar para uma vida sã em
sociedade.
Consciente da situação de desigualdade em que as mulheres viviam, numa
sociedade conservadora e pouco aberta à mudança, iniciou, nos primeiros anos do
século XX, um dos maiores combates da sua vida: defender a igualdade de direitos
jurídicos, cívicos e políticos entre os sexos. Naquele tempo, as mulheres estavam, por
imperativos económicos, sociais e culturais, confinadas à esfera doméstica, em situação
de subalternidade, e, socialmente, tinham o estatuto de menoridade jurídica, cívica e
política; as suas capacidades intelectuais e os trabalhos realizados eram desvalorizados,
o que obstava a que fossem olhadas como pessoas autónomas e as impedia de fazerem
livremente opções de vida.
Havia que trabalhar para que todas as mulheres tomassem consciência
da situação de desigualdade e de sujeição em que viviam e despertassem para a
necessidade de lutarem pela própria emancipação como pessoas e cidadãs. Na mira
destes propósitos, Maria Veleda foi incansável na escrita em jornais e na oratória
de tribuna, denunciando, questionando e propondo soluções para os problemas das
mulheres, além de ter um papel importante na criação e dinamização das primeiras
associações femininas e feministas, nas quais se destacou como dirigente ousada, por
vezes radical, idealista, destemida, inteligente e humanista.
A emergência do movimento feminista português coincidiu com a expansão da
propaganda republicana e a luta contra a monarquia. Convertida aos ideais republicanos,
iniciada na Maçonaria e defensora do livre-pensamento, inicia outra frente de combate
político pela implantação da República. Nos Centros Republicanos, participa nas
reuniões, conspirações e planos de acção; escreve nos jornais e discursa em escolas
liberais, associações operárias e intelectuais, fábricas, grémios, círios civis, teatros,
juntas de paróquia e comícios do Partido Republicano, da Junta Federal do Livre-
Pensamento e da Associação Promotora do Registo Civil. Alguns destes discursos e
conferências foram publicados no livro A Conquista, prefaciado por António José de
Almeida. Este insigne dirigente republicano considera que o livro de Maria Veleda
traz “um vento novo de filosofia” e “arrojadas doutrinas” que são “em si o alimento
primordial das gerações de hoje” e afirma “que a senhora D. Maria Veleda, cujo esbelto
espírito tão audaciosamente veste a túnica das mais avançadas ideias, atingiu um raro
poder de ductilidade que o leva a debater com vantagem os problemas essenciais
da tarefa que se impuseram os revolucionários portugueses.” No balanço das etapas
do percurso da luta republicana, salienta que o livro A Conquista prova que Maria
Veleda “tem sido, nesta faina laboriosa e dura, uma operária de superior engenho e rara
tenacidade. Fadou-a a natureza para realizar a propaganda dos grandes ideais entre as
pessoas do seu sexo, que uma educação detestável tem escravizado entre nós, deixando-
as no geral, desconhecedoras dos seus próprios direitos.”
Os méritos do seu trabalho e dedicação à causa republicana e à causa da
emancipação feminina granjearam-lhe adepta/os e admiradora/es nos sectores liberais
mas também inimigos entre a/os católica/os e monárquica/os mais conservadora/es.
Sofreu incompreensões, insultos, perseguições e ameaças de morte que culminaram com
a condenação por abuso de liberdade de imprensa, em 1909.
Entre 1910 e 1915, como dirigente da Liga Republicana das Mulheres
Portuguesas e das revistas A Mulher e a Criança e A Madrugada, empenhou-se na
luta pelo sufrágio feminino, escrevendo, discursando, fazendo petições e chefiando
delegações e representações aos órgãos de soberania. Combateu a prostituição,
sobretudo, a de menores, e o direito de fiança por abuso sexual de crianças. Fundou o
Grupo das Treze para combater a superstição, o obscurantismo e o fanatismo religioso
que afectavam sobretudo as mulheres e as impediam de se libertarem dos preconceitos
sociais e da influência clerical que as mantinham submetidas aos dogmas da Igreja e à
tutela masculina.
Depois da implantação da República, por ocasião das incursões monárquicas
de Paiva Couceiro, integrou o Grupo Pró-Pátria e percorreu o país em missão de
propaganda, discursando em defesa do regime ameaçado. Em 1915, em consonância
com o Partido Democrático de Afonso Costa, juntou-se aos conspiradores na preparação
do golpe revolucionário que destituíu o governo ditatorial do General Pimenta de Castro
e, a seguir, envolveu-se na propaganda a favor da participação de Portugal na 1ª. Guerra
Mundial.
Nesse mesmo ano, saíu da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, filiou-se
no Partido Democrático e fundou a Associação Feminina de Propaganda Democrática,
cuja acção terminou em 1916, em nome da União Sagrada de todos os portugueses, na
defesa dos interesses da Pátria ameaçada.
Desiludida com a actuação dos governos republicanos que não cumpriram as
promessas de conceder o voto às mulheres nem souberam orientar a República de
modo a estabelecer as verdadeiras Igualdade, Liberdade e Fraternidade e construir uma
sociedade mais justa e melhor, abandonou o activismo político e feminista em 1921,
após os acontecimentos da “noite sangrenta”. Fez-se jornalista do Século e de A Pátria
de Luanda, onde continuou a defender os ideais feministas e republicanos que sempre a
nortearam.
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