sexta-feira, 17 de junho de 2011

As críticas ao sistema educativo no tempo da monarquia


Na viragem do século XIX, Maria Veleda, baseando-se na sua experiência de professora, condenava o sistema de ensino vigente por submeter as crianças a uma disciplina rígida, quase militar, e permitir a aplicação de castigos corporais e outros igualmente humilhantes, transformando a escola num espaço repressor e os professores em algozes da vivacidade e alegria infantis.

Na sua perspectiva, o castigo era avesso ao gosto de aprender e por isso os alunos saíam da escola com uma instrução rudimentar e limitada. Sendo obrigados a papaguear coisas que não entendiam, aprenderiam a ler mas seriam incapazes de aprender a pensar.

Este regime estava caduco e inadequado às exigências modernas, pois descurava a educação das raparigas, futuras mães e educadoras, e obrigava os professores a dar aulas a turmas de quarenta e cinquenta alunos, em salas acanhadas, mal iluminadas e sem condições pedagógicas, o que os impedia de conhecerem as capacidades e o carácter de cada um, de forma a poderem ministrar uma educação apropriada a cada caso.

É de salientar a preocupação de Maria Veleda em conhecer bem as crianças para as poder educar em conformidade, o que se afigura prenunciador do ensino individualizado que ainda hoje se pretende implementar como ideal, apesar da crescente massificação e democratização.

Quando já se encontrava em Lisboa, como professora do Centro Escolar Republicano Afonso Costa, condenou veementemente a “perniciosa” influência do clero no ensino e a submissão dos programas educativos à doutrina da Igreja.

Após a implantação da República e na sequência da publicação da Reforma da Instrução Primária, denunciou as desigualdades de estatuto profissional entre os professores do ensino oficial e os do ensino livre ou particular. Estes não podiam fazer parte dos júris de exames, não progrediam na carreira, não tinham direito à aposentação, nem podiam ingressar automaticamente nos quadros das escolas estatais.

Clamando pela igualdade de direitos, condenou o governo provisório por não corrigir a situação herdada da monarquia e, sobretudo, por ter ignorado o contributo destes professores para a divulgação dos ideais da República, visto que a maioria esteve muitos anos ao serviço dos Centros Escolares Republicanos e de outras Escolas liberais.

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